Não conheço e, em geral, tenho em péssima conta a arte digital. Ao som das duas palavras, imagino unicórnios de olhar vítreo e profundo, fadas despudoradas, poentes em planos lisos e espelhados com uma cadeirinha a meio e umas bolas de cristal a girar em redor, entre outras torturas estéticas pseudo místicas.
Foi com este espírito que entrei ontem pela primeira vez no DAM, embora suavizada pela súbita (para mim, entendido) revelação da existência de um museu que é, por tradição, uma instituição fiável. Desde ontem que visito galerias. E embora aquelas onde estive até agora tenham vindo a desfazer em parte a minha ideia estereotipada (em nove galerias não vi nada do que descrevi no outro parágrafo, apesar de haver nítidas fronteiras e promíscuas aproximações) em nenhuma delas me senti feliz. Até agora mantém-se uma entrave pior que o pseudo misticismo das formas mais populares disto - é uma arte fria, cromada, desagradável, de expressividade anémica.
Na 10ª galeria encontrei porém Jean-Pierre Hébert, que me encantou. Não a 100%, há imagens pelas quais sinto instintivamente a mesma repugnância. Os sand movies, por exemplo - lá estão as esferas espelhadas e também a simetria e arrumação exageradas que me remetem para espaços imaginários asfixiantes.
Muitas imagens de Jean-Pierre Hébert, no entanto, proporcionaram-me um genuíno e intenso prazer visual. Os primeiros trabalhos de Jean-Pierre Hébert datam de 1979 e, como li depois, não é considerado, em rigor, um criativo, mas um explorador das potencialidades de um novo meio de expressão.
Por tudo isto, achei que merecia uma nota na Janela e uma exposição no Boogie.