segunda-feira, setembro 15, 2003
A Lídia já o publicou em inglês mas houve alguém que, um dia, reparou que tinha perdido este livro. Por isso aqui fica a tradução de Maria Teresa Guerreiro.
Passos Tristes
Voltando para a cama aos apalpões depois de mijar
Abro as espessas cortinas e sinto um sobressalto
Ao ver as nuvens velozes e a limpidez da lua.
Quatro da manhã: os jardins de sombras agrestes
Sob um céu cavernoso, espicaçado pelo vento.
Há nisto tudo algo que me faz rir,
A lua a correr por entre as nuvens ralas
Como fumo de canhão acaba por de destacar
(Luz cor de pedra aguça as arestas dos telhados)
Elevada, insensata e solitária –
Pastilha do amor! Medalhão da arte!
Oh, lobos da memória! Imensidões! Não,
Virado lá para cima, sinto um leve arrepio.
Esse olhar tão singularmente duro e claro
Tão amplo, tão fixo e penetrante
Traz à memória a intensidade e a dor
De ser jovem; e recorda que nada disso vai voltar,
Mas existe plenamente, noutro sítio, para outros