terça-feira, agosto 05, 2003
Logo às 00h55, na rtp1: Niagara com Marilyn e Joseph Cotton.
A Monroe? Não passava de uma maltrapilha, uma divindade desleixada – no mesmo sentido que um banana split é desleixado mas divino.
Os seus lábios escorregadios, a sua transbordante beleza loura e as alças deslizantes do soutien, as rítmicas convulsões da carne irrequieta retorcendo-se por entre decotes sem espaço – são os seus emblemas, os traços susceptíveis de serem caricaturados e que, supostamente, a tornaram imediatamente reconhecível em todo o mundo. Todavia, naquela que se diz ser a vida real, não será fácil identificar a Monroe. Circula pelas ruas de Nova Iorque sem que os olhares dos outros a molestem, faz sinal a táxis que não param, é servida de sumo de laranja numa esplanada Nedick's por um empregado alheio ao facto de a sua cliente ser o sujeito de algumas das suas mais ambiciosas ambições; na verdade, o mais frequente é terem de nos dizer que Monroe é Monroe, visto que, à primeira vista, parece apenas mais um espécie da gueixa americana, a boneca de luxo, uma dessas jovens atrevidas de cabaré cujas carreiras progridem do cabelo pintado aos doze anos para um ou três maridos confiscados aos vinte.