Haroldo de Campos é um dos mais inovadores escritores de poemas do século XX brasileiro. Nasceu em São Paulo, em 1929, e foi um dos fundadores, em 1952, com o irmão Augusto e Décio Pignatari, da revista "Noigandres" (título roubado ao trovador provençal Arnaut Daniel), que marca o início do movimento concretista brasileiro.
Com a actividade deste grupo abre-se então um dos períodos mais férteis e criativos da poesia feita no Brasil. Leia-se, por exemplo, o excerto de "Galáxias" que a Assírio & Alvim incluiu na "Rosa do Mundo".
Mas Haroldo de Campos foi sobretudo um significativo divulgador dos grandes clássicos da poesia universal. São da sua lavra algumas das mais importantes traduções para o Português de textos clássicos chineses, clássicos hebraicos (Qohélet, por exemplo), Homero, Dante, Mallarmé, Maiakóvski ou Pound, só para citar alguns, quase sempre em colaboração com outros autores. Haroldo de Campos morreu [no sábado, dia 16 de Agosto,] na sua cidade natal, de "falência múltipla de órgãos" (Folha de São Paulo, 17/9). [Dia] 19 de Agosto, [teria feito] exactamente 74 anos.
Brinde
Nada, esta espuma, virgem verso
A não designar mais que a copa;
Ao longe se afoga uma tropa
De sereias vária ao inverso.
Navegamos, ó meus fraternos
Amigos, eu já sobre a popa
Vós a proa em pompa que topa
A onda de raios e de invernos;
Uma embriaguez me faz arauto,
Sem medo ao jogo do mar alto,
Para erguer, de pé, este brinde
Solitude, recife, estrela
A não importa o que há no fim de
um branco afã de nossa vela.
STEPHANE MALLARMÉ
(Tradução de Haroldo de Campos, em colaboração com Augusto de Campos e Décio Pignatari, Editora Perspectiva, 3ª Ed., 1991.)