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terça-feira, julho 22, 2003  
Zazie dans le metro

A MANIA DE VIAJAR



Sebastian Brandt,La Nef des Fous


Os loucos geógrafos

Vaidade mundana era como apelidava Sebastian Brandt na Nave dos Loucos, publicada em Bâle em 1494, essa ânsia científica que levava os geógrafos a percorrerem o mundo na tentativa de o medir e descobrir. De nada lhes valeria tamanho desafio à Criação Divina pois o reino dos céus não se alcançava pelo saber mas pela aceitação da pequenez da condição humana.

“Não considero verdadeiramente sábio
Aquele que gasta todo o seu zelo e sentido
A descobrir cidades, países
E parte, de compasso na mão
Para conhece bem a largura da terra,
E a profundidade do mar
(...)Que povos estão nas latitudes,
Se existem, por baixo dos nossos pés,
Também pessoas, ou não existe nada?
Se aí vivem, como se sustentam de pé,
E não caem no ar?
(...) O mestre Plínio acerca disso já dissera
Que é por certo insano
Quem quer abraçar o mundo imenso
(...)Que necessidade tem o homem
de procurar mais alto que ele
sem saber para que isso lhe serve
o que encontrará aí de eminente
quando ignora a hora da sua morte
que corre atrás dele como uma sombra
por mais verdadeira e certa que seja esta ciência
Por isso é um grande louco
quem sonha
que lhe pertencem coisas estrangeiras
que procura conhecê-las directamente
quando o próprio não se conhece

(...) só busca glória mundana
esquecendo o reino eterno”


O mundo mapeado

Século e meio mais tarde, nos recolhidos interiores domésticos de Vermeer, os mapas e globos homenageiam estes sábios que mapearam a terra e lhe encontraram as coordenadas geométricas e matemáticas. A mesma ciência da ordem das proporções matemáticas e geométricas que defende como chave de ouro na sua pintura.



O Geógrafo (1668/69)



Turistas não acidentais

Os “geógrafos” dos nossos dias preferem viajar nas férias e geralmente escolhem uma agência que lhes trate do tour turístico. A net.viagens não é má e permite fazer marcações sem sair de casa, poupando mais canseiras de deslocação que as estritamente necessárias nas vacances.



Tourists II (1988)


Duane Hanson satirizou estes viajantes dos tempos modernos em esculturas hiper-realistas. No cinema, Jacques Tati sabotou umas pacatas férias familiares na praia no delicioso Les Vacances de M. Hulot e mostrou-os insanos, massificados e tontos no Playtime. Pela minha parte não consigo deixar de gostar deles. Devolvem-nos o olhar ingénuo que tanto se comove com maravilhas da civilização registadas nas polaróides como é capaz descobrir poesia na vulgaridade que nos rodeia todos os dias.

© Zazie

posted by Anónimo on 10:55


 
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