Vou ao cinema. As raparigas ao meu lado riem com a apresentação do Vai e vem; escandalizam-se com as letras do genérico do Irreversível e uma delas fica tonta nos primeiros segundos de filme. Trago comigo um saco e ocorre-me oferecer-lho, pelo sim, pelo não. Finalmente, calam-se; no limite, mas calam-se.
Foi esta a primeira vez que vi o Irreversível. A certos filmes não me passa pela cabeça exigir que sejam outra coisa além de filmes, mas para tal têm de ser mesmo muito bons... foi o caso; não me lembro de ter gostado tanto de um filme do primeiro segundo de genérico até ao fim. Nem faltou Beethoven, a 7ª Sinfonia, uma das minhas ideias de suprema intensidade e genialidade sonora. Saí rendida.
O saco que pensei oferecer à rapariga era da MC. A MC está com uma promoção da Blue Note, cds a 7.80 euros - não se faz! Estou como um certo personagem de Dickens para o qual Londres tinha só as poucas ruas onde ele ainda podia passar. O meu mapa de Lisboa começa a ficar cheio de vias interditas. Pelo menos enquanto não aprender a ser uma pessoa crescida perante livros e cds e enquanto durar tal promoção, serei obrigada a ignorar a existência do Picoas Plaza. Não é um lugar seguro - ontem fui lá atacada por três cds que me amarraram e torturaram horrivelmente exigindo-me que os trouxesse para casa.
posted by camponesa pragmática on 11:10