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Janela Indiscreta
 
quinta-feira, julho 24, 2003  
No tempo em que ainda não havia blogs, escreviam-se diários. Hoje, este romance poderia ser dois blogs?

Confissão impudica

1 de Janeiro

Decidi anotar de hoje em diante neste diário coisas que até aqui não ousava confiar-lhe. Eu não queria falar de uma maneira muito clara das minhas relações íntimas com a minha mulher. Com efeito, tinha medo que ela se zangasse se lesse este diário às escondidas, mas a partir deste ano decidi deixar de temer a sua fúria. Tenho a certeza que ela sabe que meto este caderno numa determinada gaveta do meu escritório.


4 de Janeiro

Seja como for, que importância é que isso tem? Mesmo que isto seja assim, não lerei nunca o seu diário. Não quero transpor os limites que fixei a mim própria, penetrando nos segredos da alma de meu marido. Tal como não gosto de revelar aos outros o que me vai na cabeça não sinto curiosidade em saber o que os outros têm no íntimo de si mesmos. Além disso, se ele quer que eu leia o seu diário, é porque talvez contenha mentiras. Não está, forçosamente, escrito só com coisas agradáveis para mim. Meu marido pode escrever e pensar o que lhe apetecer, eu faço o mesmo. A verdade é que também comecei este ano a redigir um diário. As pessoas como eu, que não contam aos outros os seus assuntos , têm necesidade de os contar a elas próprias. Mas não cometo a imprudência de deixar o meu marido suspeitar que escrevo o meu diário. Escrevo-o aproveitando as suas ausências e escondo-o num lugar de que não faz a menor ideia.

Retirado de “A confissão impudica”, de Junichiro Tanizaki
© Assírio & Alvim

posted by Anónimo on 10:45


 
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