domingo, julho 06, 2003
livros e o luar contra a cultura
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Anjos do universo, de Einar Már Gudmundsson
Sonhos; no fundo deles depreendemos a inclemente
investida da realidade de um poema de Sigfús Dadason (citado no livro)
Páll Ólafsson é o personagem principal deste livro. Páll não é uma pessoa normal mas também não é um louco varrido. A sua loucura surge lentamente. É um fiozinho que cresce e se torna cada vez mais insuportável. Páll morrerá como o cavalo malhado do sonho da sua mãe.
Nessa altura, os cavalos partiram a galope e o malhado ficou para trás. Corria em círculos, comportando-se de forma muito estranha. Depois, tentou galopar como os outros, mas tropeçou e caiu.
Quando a mamã chegou ao pé dele, jazia por terra, morto.
“Anjos do Universo” divide-se em duas partes. Na primeira, que acompanha a infância e adolescência de Páal, a loucura é ainda insipiente, apenas uma suspeita. Como diz Baldvin (que, do outro lado da loucura, é o Rei do Império britânico): "Páll é um menino protegido pelos anjos”.
Mas na segunda parte já nada lhe vale. Abandonado pelos anjos, Páll transforma-se num sombra ambulante, disforme, por causa dos comprimidos e dos seus efeitos e estranho a si próprio.
É Viktor que o afirma. O louco que decora Shakespeare e Hitler, o charmoso que encena uma das cenas mais brilhantes do livro: o jantar no luxuoso restaurante panorâmico Grillid no Hotel Saga.
O retrato do hospital Kleppur, dos seus doentes e dos seus médicos (o sensível e excepcional Brynjálfun), enfermeiros e terapias é excelente.
Na lombada descobro que Éinar Mar Gudmundsson é poeta e isso nota-se em todo o livro. É uma bela história sobre a progressão da loucura e sobre a linha ténua que a separa da normalidade.
A edição é da Canguru.
Nota: a imagem é do filme de Fridrik Thor Fridriksson que adaptou o livro.