domingo, julho 06, 2003
Editar o que dá e o que não dá
Manuel Alberto Valente faz, no seu blog, uma pequena reflexão sobre a edição:
Vão longe os tempos em que um editor publicava apenas os livros de que gostava. Já ninguém o faz, mesmo aqueles que, para auto-promoção, dizem fazê-lo. Publica-se o que dá para poder publicar-se o que não dá. É bom que se perceba esta dinâmica. Muitos livros "minoritários" ficariam sem editor se não fosse a existência dos best-sellers que os sustentam
Não concordo totalmente com esta afirmação. A liberdade de editar o que se quer depende também da estrutura da empresa. Há lugar no mercado para pequenas editoras, para mais com as facilidades e economia que a paginação electrónica trouxe ao sector. É certo que publicam poucos títulos e facturam pouco mas conseguem subsistir porque têm um público fiel e atento. É o caso da Hiena, & etc, Frenesi ou Antígona.
Claro que há editoras que, por causa da sua dimensão, não se podem dar a esse luxo. Têm de assegurar uma facturação elevada o que as obriga a seguir as ingratas regras da indústria editorial.
Mas o ritmo estonteante a que se edita, aliado a problemas nas relações com as livrarias têm criado algumas preversões no mercado. Hoje em dia os livros têm um tempo de vida cada vez mais pequeno e esses tais livros que se editam à sombra dos best-sellers correm o risco de apodrecer num armazém... e lá se vai a boa intenção.
Podemos alegar que problema é estrutural e que competiria ao Estado fazer algo para aumentar os índices de leitura. É verdade. De facto a única coisa notável que o Estado tem feito para tentar inverter os números, passa pela criação de bibliotecas o que, sendo de louvar, fica muito aquém do desejável.
No entanto, penso que as próprias editoras poderiam dar umas achegas para alterar esta dinâmica. No fundo também são elas que criam as regras, não é? Mas para isso era preciso que se entendessem e tomassem medidas em conjunto…