Há muitos livros sobre álcool. Assim desprevenida lembro-me de “As memórias de um alcóolico”, de Jack London (Antígona), de algumas das histórias de Raymond Carver (Teorema) e deste : “De Moscovo a Petuchki - a lucidez de um alcoólico genial” de Venedikt Erofeev. Está editado em português pela Cotovia e é genial.
É mais ou menos auto-biográfico, narra uma viagem de Moscovo a Petuchki, de comboio, em que Venitchka partilha o álcool com os outros bêbados do comboio e com os anjos (a esfinge e o diabo que o alucinam).
Venitchka fala do estado soviético, da literatura russa e de filosofia e ainda apresenta umas receitas mirabolantes de cocktails, tipo “lágrima da jovem comunista”ou “tripa da cadela”, compostos por partes de vodka, água de colónia e outros ingredientes suspeitos.
Erofeev é uma personagem obscura das letras e dizer que é das letras já é suspeito. O livro foi escrito nos anos setenta e circulou mais ou menos na clandestinidade. Será o álcool capaz de dissolver o poder?
A primeira edição De Moscovo a Petuchki vendeu-se muito rapidamente por ter sido apenas de um exemplar. Desde então fui bastante criticado pelo capítulo “Foice e Martelo - Karatcharovo”, mas injustamente. No prefácio dessa primeira edição, eu prevenia todas as moças de que deveriam passar por cima do capítulo “Foice e Martelo - Karatcharovo” e não o ler, porque depois da frase E comecei imediatamente a beber seguem-se páginas inteiras dos mais refinados palavrões, já que em todo esse capítulo não há uma única palavra normal, à excepção da frase E comecei imediatamente a beber. Com essa informação bem intencionada consegui que todos os leitores, e em particular as moças, se atirassem logo ao capítulo “Foice e Martelo - Karatcharovo” sem lerem os anteriores, nem sequer a frase E comecei imediatamente a beber. Por isso achei necessário nesta segunda edição, retirar do capítulo “Foice e Martelo - Karatcharovo” todos os palavrões. Assim será melhor porque, primeiro, irão ler a obra conforme a ordem estabelecida e, segundo, não haverá ofendidos