quarta-feira, julho 23, 2003
Apaga-me os olhos: inda posso ver-te,
tranca-me os ouvidos: inda posso ouvir-te,
e sem pés posso ainda ir para ti,
e sem boca posso inda invocar-te.
Quebra-me os braços, e posso apertar-te
com o coração, e o cérebro baterá,
e se me deitares fogo ao cérebro
hei-de continuar a trazer-te no sangue.
Rainer Maria Rilke,
Poemas, as elegias de Duino e sonetos a Orfeu (tradução Paulo Quintela), Ed. Asa, 2001