Depois do belíssimo Vanina Vanini, foi com entusiasmo que li Ernestina, ou as 7 fases do amor, uma pequena história que Stendhal escreveu para demonstrar a sua teoria do amor.
Ernestina é uma jovem que os jogos do acaso empurram para um mundo novo e complicado onde as dúvidas, sobressaltos e cristalizações atacam e desorganizam o seu coração.
O livro é mais ou menos uma pequena ilustração do ensaio maior do escritor “Do Amor”, onde ele descrimina e analisa com detalhe (quase científico) as fases:
1ª – Admiração;
2ª – Que prazer, etc,:
3ª – A esperança;
4ª – O amor nasceu,
5ª – Primeira cristalização;
6ª – Aparece a dúvida;
7ª - Segunda cristalização.
A perspicácia de Stendhal é notável:
Finalmente, encontrou-se no seu pequeno quarto; tirou os ramos do seu lenço e, deixando para depois a leitura dos bilhetinhos, começou efusivamente a dar beijos nos ramos de flores, gesto que a fez corar quando se apercebeu do que estava a fazer. “Ah!, nunca mais vou mostar o meu ar imperioso, disse para si própria, vou emendar-me.”
Por fim, quando sentiu que já tinha manifestado toda a sua ternura àqueles ramos compostos das mais raras flores, leu os bilhetinhos. (Um homem teria começado por aí.) O primeiro, o que estava datado de domingo, às cinco horas, dizia:
“Neguei a mim próprio o prazer de vos ver, a seguir à cerimónia; eu não podia estar sozinho; tinha medo que se lesse nos meus olhos o amor em que ardo por si…”
Releu três vezes estas palavras, “o amor em que ardo por si”, depois levantou-se para ir ver no seu psyché se estava com um ar imperioso; e prosseguiu:
”… o amor em que ardo por si. Se o seu coração não está ainda comprometido, queira pegar neste bilhete, que poderia comprometer-nos.”
Como era bom que as raparigas trocassem o consultório sentimental da “Maria” pela graça e mestria do Stendhal, que mundo novo se abriria.