Todd Haynes é genial na reinvenção do melodrama. Far from Heaven conta duas histórias: uma à superfície feita segundo as regras de Douglas Sirk, a do casal magna-tech; a outra, mais profunda e mais real, em que as personagens se revelam desajustadas dos seus papéis. Em vez do marido fiel e profissional empenhado, encontramos um homem apaixonado por um rapaz, um homem cheio de dúvidas e remorsos. E por detrás da esposa extremosa, existe uma mulher em plena descoberta de si mesma e dos seus desejos.
O resultado é magnífico. Saí da sala com a sensação de ter visto o primeiro melodrama verdadeiro e isto é também um doce engano, porque o melodrama vive duma exarcebação de sentimentos que ultrapassa a realidade. Mas é um bom ponto de chegada: não será a ficção que hoje em dia nos devolve a imagem mais real da vida?
Neste filme tudo é perfeito. As cores são belas e outonais e entram em jogos subtis com o azul claro; a luz é coada. A música de Elmer Bernstein é sentimental. Os movimentos da câmara são suaves e os fundidos inebriantes. O guarda-roupa é excelente e minucioso: por exemplo, na última cena, Cathy troca os vestidos vaporosos por um tailleur justo e nós percebemos que toda a vida dela mudou, que a primavera não vai ser doce, que o final não vai ser feliz mas também que ela vai, pela primeira vez, fazer o que quer.
Os actores são sublimes e a Julianne Moore é bela. Acho que não vale a pena esgotar os adjectivos. A ver, mais do que uma vez.