domingo, março 23, 2003
(Evita as tentações da teoria: o poema é uma coisa veemente e frágil. E não é frontal, mas insidiosa)*
Comemorar a poesia em clima de guerra deu origem a discussões. Li há bocado no Público os pormenores.
"O poeta não é um iluminado, como os românticos pensaram. É uma pessoa como qualquer outra qualquer. Só há um tipo de critérios para avaliar a poesia, que são os poéticos", disse Pedro Tamen para acalmar os ânimos, e (apesar de um lapso que o fez trocar poéticos por políticos) acho que tem toda a razão. É uma frase clara e sensata… mas ao mesmo tempo fico com as minhas dúvidas, se um poeta é como outra pessoa qualquer deve ter muitas dificuldades em separar os poemas que escreve das outras palavras que lhe vão na cabeça. Pode jogar ao Dr. Jekyl vs Mr. Hyde ou pode dizer como o António Franco Alexandre, "Apenas vou ler uns poemas insignificantes" (e o desdém desta afirmação é encantador), mas será que consegue não misturar as coisas? Será que consegue preservar a fragilidade?
* apropriação descarada de Herberto Helder (Photomaton & Vox)