terça-feira, março 25, 2003
de Georg Büchner, Leôncio e Lena
Leôncio – Vês, Lena, estás a ver como temos os bolsos cheios, cheios de bonecos e brinquedos? Que havemos de fazer com eles? Pintar-lhes uns bigodes e pôr-lhes sabres à cinta? Ou vestir-lhes fraques e deixá-los entregarem-se a uma política e a uma diplomacia de infusórios e nós sentarmo-nos ao lado, com o microscópio? Ou sentirás vontade de possuir um realejo com ratinhos estéticos, brancos como o leite, a correrem à roda? Vamos construir um teatro? (Lena encosta-se a ele e abana a cabeça em sinal de negação.) Mas eu sei bem o que tu queres: mandamos partir todos os relógios, proibir todos os calendários, e contamos as horas e as luas só pelo relógio das flores, só pela florescência e pelo fruto. E depois cercamos o nosso reinozinho com espelhos ustórios para nunca mais haver inverno e para nos podermos destilar, no verão, até Ischia e Capri e para estarmos todo o ano no meio de rosas e violetas, de laranjas e de louros.
Valério - E eu vou ser Ministro de Estado e vai sair um decreto que quem fizer calos nas mãos será declarado interdito, que quem cair doente por trabalhar demais incorrerá em crime, que todo aquele que se gabar de ganhar o pão com o suor do seu rosto será declarado doido e perigoso para a sociedade humana, e depois deitamo-nos à sombra e pedimos a Deus que nos mande macarrão, melões e figos, gargantas melodiosas, corpos clássicos e uma religião confortável.