Biblioteca de Herculano - à espera de futuro menos voraz
A RTP2 passou há cerca de um ano, n’O Lugar da História, um documentário sobre as investigações arqueológicas que levaram à descoberta da antiga Herculano, vila situada nas imediações do Vesúvio que, há dois mil anos, desapareceu sob uma nuvem de fluxo piroclástico proveniente da erupção do vulcão.
O Público noticiou hoje a abertura da vila a visitantes, salientando o que já se sublinhara no documentário passado pela RTP2: a importância crucial da descoberta da biblioteca de Herculano, uma das mais substanciais bibliotecas da Antiguidade, que poderá conter “obras de Sófocles, Eurípides, Ésquilo ou Horácio. Novos diálogos de Aristóteles, textos da escola de Epicuro, exemplares de "A Eneida", de Virgílio, e da "História de Roma", de Tito Lívio, da qual mais de 100 dos 142 volumes se encontram desaparecidos [e que] podem estar conservados a 30 metros de profundidade.”
O problema é que, para continuar a trazer à luz do dia as partes ainda ocultas da biblioteca, o Governo italiano terá de proceder a algumas expropriações, decisão difícil pois um dos limites à arqueologia e à defesa do património cultural é, precisamente, acreditar-se que a pedra não deverá sobrepor-se aos homens e que, em caso de conflito, a defesa da primeira deverá ceder em prol da defesa da vida dos segundos. Compreende-se perfeitamente. Comparar (como faz Nunzio, habitante de Herculano que se opõe, logicamente, às expropriações) papiros a pizzas é que não lembra ao diabo - "Nós, os italianos, comparamos as relíquias arqueológicas a pizzas - temos as melhores do Mundo, mas quando as comemos todos os dias esquecemos até que ponto são especiais".