O 78º aniversário de Carlos Paredes, que deu uma nova “alma” à guitarra portuguesa, começa a ser comemorado domingo, homenagem que se prolongará pelo ano de 2003. No dia do seu aniversário, realiza-se um espectáculo na primeira escola frequentada pelo músico.
O ano de homenagem a Carlos Paredes tem início com um espectáculo no Jardim-escola João de Deus, em Coimbra, no qual marcarão presença diversas individualidades, como Maria João e Mário Laginha.
A associação Movimentos Perpétuos pretende promover uma série de actividades culturais, que passarão por espectáculos de música, cinema, exposições, edição de livros e catálogos e lançamento de um CD duplo e DVD. Além destas iniciativas, a associação pretende criar e manter um “site” dedicado ao músico.
O CD duplo será uma homenagem a Carlos Paredes e conterá uma reunião de inéditos de vários artistas e correntes de música portugueses.
O DVD, ainda não confirmado, terá imagens do espectáculo “Carlos Paredes – Uma Guitarra Portuguesa”, que teve lugar no Teatro São Luiz, em 1992.
A associação prepara igualmente a edição de um álbum de BD alusivo ao músico português, da autoria de Adolfo Luxúria Canibal, vocalista do grupo Mão Morta, e de Manuel Cruz, dos Ornatos Violetas.
No âmbito dos livros, também se aguarda o lançamento de uma compilação de textos de diversas personalidades, como José Saramago, Jacinto Lucas Pires ou Manuel Alegre. Os textos reflectem o papel e a importância do mestre da guitarra portuguesa.
Para além dos livros, CD e DVD, é esperada, em Outubro, a inauguração de uma exposição colectiva de 78 artistas ligados às áreas da pintura, fotografia, escultura, música, vídeo, literatura, entre outras.
Segundo a associação, o objectivo desta homenagem é “tornar acessível toda a obra de Carlos Paredes”.
Uma vida dedicada à guitarra portuguesa
Carlos Paredes nasceu a 16 de Fevereiro de 1925, em Coimbra. Filho do célebre guitarrista Artur Paredes, cedo se dedica à arte de tocar guitarra portuguesa.
Já em Lisboa, Carlos Paredes conclui a instrução primária e o liceu, acabando por ingressar no Instituto Superior Técnico.
Em 1957, grava o seu primeiro disco. É a partir desta data que Carlos Paredes se lança no mundo da música a nível nacional, distinguindo-se pela mistura da música da câmara da Renascença e pelo fado de Coimbra.
Com um estilo muito próprio, Carlos Paredes vai conquistando terreno, não só no lançamento de álbuns, como na composição de temas musicais para diversos filmes, como “Verdes Anos”, de Paulo Rocha. Mais recentemente, trabalhou com Manoel de Oliveira e José Fonseca e Costa, bem como com o Grupo de Teatro de Campolide e Teatro Nacional D. Maria II.
Poderei,
com esta harpa de cordas tensas, com as pérolas
deste colar de sons e mágoa,
tocar o teu ouvido ou a tua alma,
poderei chegar sem que o vento me anuncie,
mais perto dessa cama que nunca foi o céu ou a
terra ou o mar e onde,
impiedosa,
não se abrisse a tempestade?
É talvez uma asa, um ser aflito,
aquilo que chega ao alpendre e em veloz sombra
inicia a sua viagem,
de norte para sul, para a brisa que arrefece a
cal,
quando em silenciosa migração as tuas aves
partem para sempre
e é mais triste o promontório com o farol que
já não acendes.