quinta-feira, fevereiro 20, 2003
livros e o luar contra a cultura
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Acabei de ler Fábulas de Italo Svevo.
É um livro pequeno, editado pela & etc em 2001, que reune algumas Fábulas, “Três histórias animalistas”, “Páginas de um diário” e um episódio de “A Consciência de Zeno” (através do qual podemos ver como é difícil a vida de um fabulista).
Svevo viveu sem fama nem proveito e só começou a ser conhecido quando Eugenio Montale (aconselhado por James Joyce) elogiou a sua obra. Mas Svevo não estava talhado para a fama e, qual personagem das suas fábulas, morreu três anos após a sua “descoberta”, destruindo o que poderia ter sido uma bonita história de louvor e glória.
Gostei particularmente desta história:
Sem que de modo algum fosse culpa sua, um homem perdeu todos os seus haveres e ficou na mais cruel das indigências. De idade já bastante avançada, não tinha a menor esperança de algum dia voltar a levantar a cabeça. Todavia continuou vivo. Muitas vezes desejou morrer, mas apesar de tudo nunca o desespero foi suficiente para armar a mão contra si próprio.
Um dia, encontrou por acaso Herbert Spencer que lhe explicou porque é que o seu infortúnio era consequência evidente da incapacidade própria, e por que razão não merecia compaixão nem ajuda, pois esta, a ser-lhe dada, teria corrompido a lei social, que exige a eliminação do vencido.
Então, à laia de conclusão, o pobre homem matou-se imediatamente.
Trieste, Dezembro de 1897
O livro foi traduzido por Célia Henriques e a capa e os desenhos (muito bons e tão acutilantes como as histórias) são de André Ruivo.
Infelizmente as Fábulas não devem ser fáceis de encontrar nas livrarias. O autor é pouco conhecido, a editora é pequena e um livro editado em 2001 com estas características está condenado a apodrecer num armazém. Eu salvei este exemplar...