Câmara de Lisboa Garante Centro de Artes Aos Artistas Unidos
A Câmara Municipal de Lisboa (CML) garantiu aos Artistas Unidos (AU) que o Centro das Artes A Capital iria avançar. E propôs à companhia que apresentasse as suas produções no Teatro Taborda, enquanto as obras de recuperação daquele espaço não estivessem concluídas. Ontem, em comunicado, a CML disse que o arquitecto Pedro Maurício Borges (prémio Secil de Arquitectura) será o responsável pela reconversão d' A Capital num espaço polivalente, e que Silva Melo apresentará um programa artístico até final de Março, que, acrescentam, será discutido com a vereação da Cultura da autarquia "e outras personalidades e entidades representativas do meio artístico".
As obras n' A Capital, de onde os AU e outras produtoras foram despejados em Agosto, vão arrancar brevemente. O acordo surge depois das garantias dadas pelo presidente da CML, Pedro Santana Lopes, de que o projecto ia avançar, e de uma reunião, que decorreu na segunda-feira, entre as vereadoras da Cultura, Maria Manuel Pinto Barbosa, e da Reabilitação Urbana, Eduarda Napoleão, com Silva Melo e Pedro Maurício Borges. O encenador, que ficou "muito satisfeito" com a "atmosfera de relançamento" do projecto, está no entanto a estudar a hipótese do Taborda. "Não sabemos se temos orçamento para aguentar uma temporada com novas produções. Fiquei de apresentar um plano na segunda-feira", disse.
Não acredito que o Pedro Santana Lopes seja tão “distraído” que deixe ir por água abaixo um projecto com a energia dos Artistas Unidos. Foi buscar um bom arquitecto (a arquitectura sempre agradou aos governantes) e que melhor prémio depois de um prémio senão desenhar? Óptimo, o Jorge Silva Melo parece que também gosta, o único entrave que vejo é a lentidão portuguesa, noutro sítio o assunto estaria arrumado, aqui ainda há pano para mangas e até pode voltar tudo ao ponto zero.
Enquanto isso, esfrego as mãos à espera de BAAL
A primeira peça longa de Bertolt Brecht é a história da vida de um poeta e cantor bêbedo, rude e mulherengo. Com o seu amigo músico, Ekart, Baal deambula por toda parte bebendo e lutando. Engravidada por ele, Sophie segue-o e acaba por se afogar. Baal seduz ainda a amante de Ekart que acaba por assassinar. Perseguido pela polícia, morrerá sozinho numa floresta. Apesar de ser um retrato anti-heróico, não há dúvida de que muito da imagem romântica do poeta-fora-da-lei se aplica a este Baal cuja linguagem descende directamente de Rimbaud e Villon.
BAAL aparece como resposta a O SOLITÁRIO de Hans Johst, onde se relata a história do poeta alemão Grabbe dando-lhe um significado expressionista contra o qual Brecht se quis insurgir. Inspirando-se na vida do poeta francês, escritor medieval de baladas, François Villon, Brecht pretende em Baal mostrar a natureza elementar do indivíduo que se alimenta do prazer e não pensa sequer em pagar as despesas da vida burguesa. Mas ao longo da escrita, Brecht encontra também Verlaine, Rimbaud e Büchner. Com Baal, Brecht revolta-se contra o pathos expressionista, contra os artistas endeusados, contra o tradicional conflito, por ele repudiado, entre a vida e a arte. Brecht procurava o escândalo e encontrou-o. Pouco depois da estreia, o presidente da câmara de Leipzig proibiu a continuação da carreira da peça.
Em Portugal foi estreada no Teatro da Trindade numa versão de José Fanha e João Lourenço e encenação de João Lourenço com Mário Viegas, João Perry, Virgílio Castelo e Irene Cruz nos protagonistas.