Afinal não é uma piada!
A clássica réplica dos empregados de café ao educado “Queria um café, por favor.” (um café ou outra coisa qualquer) - “Mas por que é que as pessoas dizem Queria em vez de Quero?!” - não é afinal uma piada, mas uma legítima interrogação.
O diálogo seguinte aconteceu ao balcão de um restaurante em Lisboa, no passado sábado, cerca das 20 horas:
Empregado: Boa noite! Então o que é que vai ser?
Cliente: Boa noite! Queria um Ventil Lights, se faz favor.
E: (abana a cabeça em sentido negativo)
C: Que outros lights tem?
E: Português Suave...
C: Pode ser.
O tabaco é trocado por uma nota de 5 euros e, no acto de devolução do troco, hélas!:
E: Por que será que as pessoas dizem Queria em vez de Quero?! (A cliente era eu; a imagem do super herói do Programa da Maria [Rueff] que salvava clientes oprimidos pelas piadas estúpidas dos empregados de café atravessa-me o espírito em voo justiceiro, enquanto encolho os ombros e esboço um sorriso tímido; o empregado continua:) É que Queria não serve... quer dizer... Cria, Criar é uma coisa, Querer é outra...! (Compreendi!)
Ponto n.º 1: Este homem não estava a gozar.
Ponto n.º 2: Rebobine-se a conversa, agora na perspectiva deste homem:
E: Boa noite! Então o que é que vai ser?
C: Boa noite! Cria um Ventil Lights, se faz favor.
E: (abana a cabeça em sentido negativo)
C: Que outros lights tem?
E: Português Suave...
C: Pode ser.
E: Por que será que as pessoas dizem Cria em vez de Quero?! É que Cria não serve... quer dizer... Cria, Criar é uma coisa, Querer é outra...!
Afinal, os verdadeiros oprimidos eram os empregados de café, perplexos com o facto de lhes ser exigida a criação das mais variadas coisas, de bolos a cafés, passando por maços de tabaco, copos de vinho, pastéis de bacalhau e ginjinhas, enquanto, insolentemente, eram tratados por tu. Tudo por causa da má dicção.