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Tudo se passa dentro de um carro, há uma mulher que o conduz (através de atalhos, de ruas sem saída, de ruas com muito movimento) e ao lado vão-se sentando o filho, a irmã, uma velhota religiosa, uma amiga e uma prostituta.
O carro é uma mistura de diva de psicanalista e confessionário onde se expõem os problemas destas mulheres, onde se discute, berra e chora.
É a primeira vez que o Kiarostami filma intensamente as mulheres, exceptuando o rapazinho há apenas um homem (o pai) que está sempre longe (dentro de um jipe) e de quem quase nada sabemos. Veio-me à memória um livro do Edward T. Hall (A Linguaguem Silenciosa) em que ele nos fala dos iranianos:
Os iranianos lêem poesia; são sensíveis, têm uma intuição desenvolvida e, a maior parte das vezes, não se espera que façam grande uso da lógica. É frequente vê-los a abraçarem-se e a apertarem as mãos. Em contrapartida, as mulheres são consideradas seres frios e práticos. Possuem muitas das características que nos Estados Unidos se associam aos homens. Um funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros, muito perspicaz, que passara numerosos anos no Irão, comentou:”Se inverter os papéis emocionais e intelectuais que atribuímos ao homem e à mulher dar-se-à muito bem aqui.”
Estes homens já os tinha encontrado em filmes anteriores sendo talvez o melhor exemplo aquele que se faz passar por Makhmalbaf em Close Up, mas as mulheres têm andado encondidas por detrás do chador e de uma timidez imposta e é a primeira vez que as descobro assim, a dizerem o que pensam sobre os homens, sobre a sua própria vida, sobre a religião e sobre o sexo.
Mania Akbari erradia uma energia surpreendente e é com muito humor que insinua ao filho que o grande problema entre homens e mulheres passa pelo aconchego da barriga.
Os diálogos e os actores são magníficos e a economia de meios é notável.