"Corra Portugal de lés a lés com meias Ferrador nos pés!"
Este faz parte de um tesouro colectivo. É o slogan das lojas Ferrador. Em rima. Um clássico. Adorável. É suposto ficarmos com os pés impecavelmente ferrados e irmos a correr para longe com uma perna atrás das costas. E voltarmos. É o que eu imagino sempre que passo a uma das lojas: uma pessoa normal a vestir-se de manhã, em Lisboa, a um ritmo normal, até que calça umas meias daquelas e desata a correr para o Porto.
Há poucos slogans como este. Serve o principal propósito de promover um produto e não se fica por aí: "correr de lés a lés" é, por si só, uma das mais ricas expressões da língua portuguesa, dizer que se vai de leste a leste não teria o mesmo encanto; atribuir essa capacidade aos frágeis pés humanos por efeito de umas meias (não sapatos) é genial. Uma vez lido, o slogan nunca mais se esquece. É exagerado, porque quer apenas dizer, só pode querer apenas dizer, que aquelas meias são extremamente confortáveis. Acredito que foi pensado para ser exagerado, e admito que o riso tenha sido previsto como um efeito secundário e não necessariamente nefasto. Este slogan devia ser classificado como património nacional.
E a troça implícita no nome das lojas, sublinhada no slogan? Não, aqui não há acasos, nem sortes. Quem assim chamou a uma loja de meias e imaginou ou aprovou um slogan destes sabia rir e nunca tirava o chapéu*.
* Ver "Manual dos Inquisidores", de António Lobo Antunes.