Na garagem do alfarrabista-mecânico. Lisboa. Largo do Andaluz, ao cimo da Rua de Santa Marta, por baixo da Fontes Pereira de Melo. Portas verde alface. Em cima pode ler-se "ARMAZÉM", "IMPORT", "EXPORT". Os livros estão sempre a chegar e a ir embora (não sei onde ele os coloca depois, é um mistério), por isso as colecções são sempre diferentes. Quem não tiver medo do ladrar da Carolina, a rafeira de guarda, nem de sujar os dedos com pó, entra, vasculha e encontra qualquer coisa. Os livros costumam estar dispostos em tabuleiros, com a lombada para cima. Depois de escolhidos, o alfarrabista-mecânico conta-os e divide esse número por dois para encontrar o preço em euros. Hoje ele tinha recebido um carregamento das Doroteias e havia sobretudo livros religiosos em português, francês e castelhano. Trouxe "A Bíblia Sagrada" e "A Minha Mulher", de Tchekhov: 1 euro. Isto sim é um alfarrabista.
posted by camponesa pragmática on 13:51