A fotografia do Wim Wenders lembrou-me um dos meus poemas preferidos, de um pequeno livro (Antologia Breve, da colecção Gato Maltês da Assírio & Alvim) de William Carlos Williams, que está habitualmente na mesa de cabeceira. Já passou por aqui, há mais de um ano, e ao lê-lo de novo, reparo como gosto tanto do modo como o poeta fala das cores gastas; também são essas que mais me agradam. E para além das cores:
Quando era mais jovem
tinha a certeza
que devia fazer algo da minha vida.
Agora, mais velho,
caminho por vielas
admirando as casas
dos muito pobres:
telhados desengonçados
pátios cheios de
velho arame de capoeira, cinzas,
móveis desconjuntados;
as cercas e os anexos
construídos com aduelas
e tábuas de caixotes, todos,
com alguma sorte,
sujos de um verde-azulado
cuja pátina
me agrada mais
que qualquer cor.
Ninguém
acreditará que isto
seja tão importante para a nação.