1. Se, num beijo mais arrebatado, o noivo se transformar em sapo,
2. Se descobrir no seu olhar que o princípe não é um princípe mas sim Júpiter,
3. viro monárquica.
Quarta Cena.
Júpiter disfarçado de Anfitrião. Acmena. Cáris. Mercúrio
Archotes
Júpiter: Manda os archotes, caríssima Alcmena,
Ali, afastar-se. Iluminam, é certo
O mais belo encanto que na terra flora,
Que nem Olimpo mais belo viu;
Porém - como dizê-lo? Denunciam,
Amada, aquele que atraiu aqui,
E melhor será que em segredo fique
Que teu Anfitrião em Tebas esteve.
Roubados à guerra os momentos foram,
Que sacrifiquei no altar do amor;
Podia o mundo mal interpretar.
Do roubo testemunha não queria,
Senão aquela que mo agradece.
Alcmena: Anfitrião! Assim queres partir? Ah,
Tão importuna é a fama, meu amado!
O diadema por que tanto lutaste
Por um ramo de violetas trocava,
Colhidas junto a uma pobre choupana.
Além de nós dois, que mais precisamos?
Porque te impõem tanta coisa estranha,
A coroa, o bastão de general?
É verdade, quando o povo te aclama,
Enlevado por todo o grande nome,
É doce pensar que me pertences;
Mas esta breve emoção o que sinto
Não vale, quando no encontro ardente
A seta visa meu seio precioso.
Sem ti esta casa é um ermo! Lento
O correr das horas, se longe estás,
Em vez de, ledo, me animar a vida.
Ah! tudo o que de mim a pátria rouba,
A partir de hoje o soube, Anfitrião,
Que só duas horas te pude ter.
Júpiter: Amada! Quanto me encantas! Porém
Também um temor suscitas, que devo,
Por risível que pareça, contar-te
Sabes que assim é lei no matrimónio,
E dever, e quem amor não granjeia,
Pode exigir esse amor na justiça.
Tal lei da minha ventura é ruína.
Ao teu coração, a ti, gostaria
Eu de dever tuas mercês e não,
Querida, a formalidades impostas,
Às quais talvez te julgues obrigada.
Como espantar facilmente esta dúvida
Pouca? Franqueia-me tua alma e diz
Se foi o esposo que recebeste hoje,
Teu comprometido, se o amante?
[...]
Anfitrião, de Heinrich von Kleist tradução de Aires Graça e Anabela Mendes, edição da Cotovia