Esta manhã mal saí do portão
parecia-me ter esquecido alguma coisa em casa.
Dois passos até ao damasqueiro
e toca a regressar.
Agora que nada resta para fazer
fico sentado diante da janela
e pergunto-me a mim mesmo: Queres isto? Queres aquilo?
Deitei fogo a páginas de livros, a calendários
e mapas. Para mim a América
já não existe, a Austrália igualmente,
a China na minha cabeça é uma fragância,
a Rússia uma alva teia de aranha
e a África o sonho de um copo com água.
Há dois ou três dias sigo os passos de Pinela, o camponês,
que procura o mel das abelhas selvagens.
Tonino Guerra (n.1920-Italia), "O Mel"
Tradução de Mário Rui de Oliveira, edição da Assírio & Alvim, 2004
Não sei como é que a Amélia Pais adivinhou mas a verdade é que este poema que ela nos enviou fecha de forma extraordinária o dia. Obrigada pela gentileza.