Deixou-me curiosa a Crónica de hoje do João Barrento. É sobre o livro Pequeno Tratado sobre as Ilusões, do brasileiro de Minas Paulinho Assunção, editado recentemente pela Campo das Letras.
Histórias ínfimas de regresso às coisas máximas, o corpo e os bichos, um quotidiano que parece livre de negócios e conflitos, todo humano, com os seus tempos de inventar mundo. Aqui, ler é qualquer coisa que faz bem, porque é tão pouco o que se diz, e tanto o que ganhamos. Ao ler estas histórias de espanto, penso: nós não estamos precisados de nenhuma "literatura da experiência", essa pobre tautologia naturalista, nem de "realismos urbanos totais", como por cá se disse a certa altura sobre o que estão escrevendo alguns novos autores. Precisamos, sim, de ler livros que nos mostrem o que é a "experiência da literatura". E a experiência da literatura é a da frase que me devolve uma experiência, mas em registo de espanto, e na medida certa; é a da imagem no nítido recorte das coisas vistas, mas com olhos de as ler e com a noção clara de que "a palavra é a nossa armadilha" (p. 57), uma lucidez pouco comum nos ficcionistas, sobretudo naqueles que, ao contrário de Paulinho, não entenderam a lição de Sena quando diz que "narrar não é o suficiente para escrever um conto".
Paulinho Assunção sabe disto e de muito mais, e é por isso que faz bem ler a poesia dos seus contos. Contos "sobre quê"? Ah, isso não sei, nem digo... Só digo que são vinte e nove histórias de maravilha e de espanto em que tudo, mas tudo, pode acontecer - e acontece, como na ficção. Ou não, como num poema.
Procurei e encontrei um excerto do livro e, inesperadamente, descobri o autor mesmo aqui ao lado , aliás ele está por todos os lados…